domingo, 29 de abril de 2012

A vida ( do Peregrino de Santiago ) é uma viagem


*«A vida é uma viagem, experimental, feita involuntariamente. É uma viagem do espirito através da matéria, e, como é o espírito que viaja, é nele que se vive».

Quebra a rotina, rasga o dia a dia, desliga o computador, a televisão apaga a luz e fecha a porta de casa. Sai e não espera por correio e cartas com selo ou sem ele. Despe-se de fatos, gravatas e outras mudas. Larga o seu trabalho, rompe horários de transportes , o carro, as escolas, os supermercados, as repartições, as famílias, as doenças, as obediências e outras obrigações . Faz um alto, um "break", no mar agitado em que viaja e procura  abrigo numa ilha de encantar :
- O Caminho Central Português de Santiago .
- O Peregrino,  que  vem de longe do Norte da Europa, aporta aqui.
Como  viajante  traz na sua bagagem  indumentária  simples, leve e básica, apenas a necessária para que possa transportar também o melhor da sua alma . Na ilha descansará em vários portos de abrigo (albergues com os seus hospitaleiros) entre uns e outros verá o verde dos campos, as vinhas  em ramada do vinho verde

, as laranjeiras e tangerineiras,
 as dálias nos jardins das casas ,as flores dos campos, os pinheiros e os eucaliptos, os sobreiros e as urzes do monte ,a água cristalina dos rios e riachos,

 os moinhos de água, as pontes romanas,

 os cruzeiros,

as igrejas das aldeias e cidades, seguindo sempre as setas amarelas e vieiras de Santiago por entre as casas grandes e pequenas, os quintais e hortas cultivados com alfaces, pencas, tomates e pimentos, os galinheiros com aves, 
os póneis, os currais com vacas, cabras, ovelhas  à solta, as pessoas presas aos lugares e os outras que com ele viajam  mas não são amigos, antes hospedeiros coincidentes no mesmo lugar, onde assinalam a sua passagem,
 tal como o fazem no Peter´s Cafe Sport, Horta, Faial, Ilha dos Açores
e onde à noite na vez de um Gin Tónico se aprecia um  bom vinho  e se conversa sobre  origens, das ondas do seu mar e da sua praia de chegada. .. do romper com as amarras do seu navio atracado ao cais da sua vida .Trocam-se  nomes, endereços e promessas de escrita, algumas vezes a custo dá-se a conhecer o posto na tripulação do seu barco . Isto é o mais penoso, é um retrocesso, um voltar ao antes de iniciar a viagem, às amizades formais, à formatação  na sociedade  moderna. Na sua pausa diária, na ilha Portuguesa, vai  apreciar a simpatia da nossa gente,  a comida de cá, o bacalhau, os rojões ,  o vinho maduro do Alentejo e do Douro, o vinho verde de Ponte de Lima ou o Alvarinho de Monção. Os outros seus  amigos, que já são muitos e bastantes, ficaram atrás no seu lugar de rotinas partilhadas, não quer mais, não quer saber de profissões, emails, laços futuros e compromissos de se voltarem a ver. Disto ele foge porque está cansado. Quer paz de espirito e procura-a na natureza distante ,que o maravilha,  diferente daquela que usualmente o rodeia . A dureza da viagem não o atormenta porque quererá sentir a dor sofrida para a poder vencer e erguer os braços de contentamento e alegria pela vitória de a ter terminado ao chegar a Santiago de Compostela.
*Bernardo Soares

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