domingo, 15 de abril de 2012

Obradoiro : a sombra do peregrino

Compostela, à volta da mesa, num café, preenchida com copos de vinho tinto de região demarcada assinalada no rótulo da garrafa e um livro de título sugestivo em espanhol perguntei ao meu amigo, também, peregrino :

- porque andas sempre só, José ? e não te juntas a nós, aos outros ?
- enganas-te Mário, trago comigo sempre um amigo, disse apontando para o livro.
 Nunca estou só !

Lembrei-lhe então a citação do nosso Nobel da Literatura, o também José mas Saramago :
«Eu há muito que digo que todos os livros, e já agora em particular os meus, deviam levar uma cinta com as palavras : atenção, este livro leva uma pessoa dentro».

Ele concordou comigo, porém, repliquei nem tanto ao mar nem tanto à terra. Esse amigo a que te referes é como uma sombra,
 não lhe conheces o rosto, o sorriso, a lágrima, não comes com ele à mesa, nem bebes um copo com ele. À noite não vai contigo a um bar ouvir uma música, não fala para ti e não lhe podes tocar ou sequer dar um beijo. Esse teu amigo foge à vida, é virtual. Por fim calei-me, despedi-me dele, acho que não vou voltar a vê-lo era uma personagem quase como uma sombra.E, agora tenho saudades dele.

Sem comentários: