quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

A minha inauguração da Ponte da Arrábida

Era a nossa Inauguração. Da Ponte. Portugal eliminara a Coreia do Norte. Os nossos 13/4 anos pediam-nos para comemorar o feito. Seria no Domingo seguinte. Éramos 3 amigos, da vida airada e de todas as horas do dia . E estudantes. Mas não do tipo : " cócó, ranheta, facada ". Vizinhos as nossas casas, tinham quintais, galinheiros e pombais ! Lado a lado ! Costas com costas ! Pregoavamos os nomes ... Mário ...Tony... Zé Fim, que logo se ouviam e não raras vezes saltávamos os nossos muros, contra a vontade dos Pais, para nos encontrarmos.

           Chegou o dia, catequese de manhã. Pela tarde, cedo, lá fomos para a Paragem da Farmácia Lopes, frente ao Rei dos Fatos, na rua Brito Capelo em Matosinhos. O Zé Fim é que orientava. A avó dele vivia na Foz Velha, na Cantareira. Apanhámos o eléctrico "1". Ao passar no "Albano" sonhámos com a Sorte Grande. A lotaria ... se nos saísse .... iríamos mais longe. Até poderíamos almoçar no restaurante " Caninhas Verdes ". Visitar castelos como o do Queijo, outras praias bonitas como estas da Foz,  esplanadas, jardins ou ir num daqueles Barcos que se viam ao longe. O Zé Fim conhecia tudo e nós ouvíamo-lo com atenção. Os nossos sonhos tornavam-se mais bonitos. Quase sem darmos por ela vemos : o Rio Douro, largo, silencioso e bonito. Ao fundo uma grande Ponte com duas Torres de cada lado. Parece que tinham elevadores.

    Foi preciso pagar cada um 5 tostões, ao Porteiro, para ir lá cima. Atravessamos a Ponte. De um lado a Ponte D. Luís, o Palácio Cristal, a Sé, os Clérigos, o mosteiro da Serra do Vilar, os barcos Rabelo, Vila Nova de Gaia . Do outro a Afurada, a Foz, a praia do Cabedelo, o Fluvial, a Barra. Tanta coisa eu e o Tony apreendíamos do Zé Fim que tinha uma Avó que vivia na Foz Velha e nós não.
   
        Atravessamos para o outro lado, até longe. Junto ao Campo do Candal Sporting Clube o prémio do dia. Um maço de cigarros SG Filtro. Tinha " fanado " na loja do seu Pai na Rua Roberto Ivens, em Matosinhos, o Zé Fim . Fumamos uns atrás dos outros, às escondidas e longe dos olhares, mas em liberdade. Tínhamos visto, na TV, que na inauguração daquela alguns homens fumavam charutos. Não nos tinham convidado para assistir ao acto. Mas agora aquela Ponta da Arrábida também nos pertencia por isso fomos lá inaugurá-lá fumando para nossa satisfação.



quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

BANANA ASSADA

Queria ver o mar. Sempre o seduzira, crescera numa terra de praia. Areia e Água. Os AAs separados pelo rei-gu. A sua felicidade aumentava sempre que pisava a areia e mergulhava no mar. Como fazer então ? Decidiu tomar um táxi. Para Cacuaco. Ali está o mar.
            A partida na Ponte Amarela junto ao Mercado do Arrió. Os preços arreiam a partir das 6 horas da tarde. A voz " Cacuaco Vila " e o sinal de mão indicam a viatura certa e que vai partir. Domingo, dia de folga, é manhã ainda cedo. Os bancos dois para um lado e dois para outro vão ficando ocupados. Começam a baixar os que fazem desaparecer a cochia. A lotação completa. Apenas um branco. Não vislumbra hostilidade antes pelo contrário cordialidade. A viagem tem inicio. A primeira paragem será para dar saída a um "chino" que vai para Benfica. Escolhe sair na ponte da via expresso no Km 25. No talude da mesma a 45 graus logo a seguir às bombas da Sonangol. O chinês sobe o íngreme talude a correr fazendo rir os passageiros pelo insólito na escolha do local de saída e agilidade demonstrada na ultrapassagem dessa subida. O autocarro 31 lugares segue até ao retorno, depois da ZEE , para apanhar a Via Expresso.
Outra paragem em cima da ponte já na Via para recolha dos últimos passageiros. Agora uma recta até ao destino final. A música sempre presente. O transito é mínimo , alguns carros acidentados nas bermas, atestam os exageros da noite do sábado. De repente o desvio para Panguila. Mais uma paragem. Mas vai em frente. Já falta pouco para ver o mar. E eis que chegamos, decorrida uma hora, ao Reservatório de Água em Cacuaco e fim da viagem.
              O mar fica mais à frente e depois à direita e em frente. Rua de alcatrão abaixo, parque jardim, a igreja à direita, Soprite à esquerda, bancos, cafés, etc. e uma viela que conduz à Praia. O mar está calmo, numa espécie de maré baixa, uma extensa praia de areia, dura e preta, para um e outro lado. Os lixeiros limpando o areal, donas de restaurantes na areia da praia, limpando mesas e cadeiras e preparando os fogareiros para assar os Chicharos do almoço. Lá ao fundo um amontoado de pessoas. Jovens jogam futebol . O aviso para ter cuidado com os bandidos no amontoado de
pessoas. É a lota do peixe. Mulheres sacodem areia e oferecem peixe. São peixeiras, vendedoras. As crianças, algumas, estão em volta de redes avariadas para aproveitarem o peixe lá preso. O peixe é muito e variado. Linguados, peixe espada, chicharro, polvos, chocos,....recuso a compra. A volta a casa é demorada. Ainda falta ir ao outro lado. Onde está o Pontão. Aqui as crianças atiram-se a agua de pé ou de cabeça. São iguais às de Porto Santo, da Ribeira ou dos Açores. Também fui uma criança dessas. Tiramos fotografias juntos. Na saída do Pontão abriram-me uma frota fechada com um cadeado. Ordens dadas por um Tuga mecânico eremita que ali cuidado dos seus barcos e dosei glorioso passado. Agradeci mas não falei com ele. Preferi imaginar o que ali lhe retinha. Amores. Só isso faz estancar uma vida. Uma última volta pelo mercado artesanal, abrigado, numa estrutura com telhado de palha escura. Bonitas e variadas peças observei. A arte Africana no seu Melhor.  Há que tomar horas para o regresso a Viana.  
Partida agora no lado oposto ao da chegada. Junto ao grande Reservatório elevado. Agora o táxi é azul, Toyota Hiace, como são quase todos. Rápidamente encheu. Parece que a viagem agora é mais rápida. Estamos na estrada de Catete, na SGO, o dinheiro da passagem passa das mãos de um para outro passageiro, 100 AKZ, tarifa única, até chegar ao cobrador. Agradeço a quem recebeu o meu. Pedi-lhe desculpa por a ter interrompido comendo, que estava, uma Banana Assada de muito bom aspecto. Ora essa ! É servido ? Não recusei a amabilidade. Obrigado, sim quero.  Ela sorriu. E tanto disse! Quem não pareceu que gostasse foi o seu acompanhante. Olhou me de uma forma que quase parecia dizer que aquele bocado lhe pertencia. Porém o sorriso da senhora indicou o contrário