domingo, 22 de abril de 2012

E tu ? Onde estavas no 25 de Abril ?

Eu estava na  Escola Prática de Artilharia - Vendas Novas


Especialidade : Artilharia de Campanha, éramos 37 soldados instruendos na aprendizagem da peça 10,5, obús 14 e peça 11,4. O polígono o nosso campo de treinos. A execução em corrida da  pista de obstáculos aí situada era prova obrigatória. Contavam as crónicas que o record de tempo na sua execução pertencia ao jogador do Benfica Néné. Obtive o oitavo tempo quando tocou a minha vez. O tiro indirecto era praticado tendo como alvos velhos tanques de guerra no Campo de Objectivos. Na semana de campo, transportados em Berliets, cobertos por capotas de lona, os recrutas da especialidade em grupos de 6 eram largados em pontos longínquos, no meio do monte a dezenas de kms da unidade. Uma bússola, um mapa , rações de combate e uma data de chegada à unidade eram as condições necessárias para se concluir esta etapa da especialidade com êxito.No quartel-escola os instruendos estavam distribuídos por 3 camaratas. Os altifalantes vomitavam ordens e informações a qualquer hora de dia e de noite. O "esquece a tua mãezinha porque vais para a guerra" era o pão nosso de cada dia. O " 5 minutos para estar na formatura" era normalíssimo.
As noites eram frequentemente interrompidas por estes altifalantes. O Tenente Andrade e Silva, madeirense, com o seu célebre bandolim era o terror dos soldados instruendos de artilharia de campanha. As praxes eram de alguma violência e nós não nos considerávamos "os comandos do sul" porque não éramos infantes mas sim tropa de retaguarda.  Simplesmente Artilheiros.

Foram estas colunas de som nas camaratas que nos anunciaram o 25 de Abril de 1974 e serviram para emitir os diversos comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA).


A informação ao vivo no local foi-nos transmitida pelo Furriel Rachão ( ex-jogador de futebol e treinador):
 - " Uma Bateria da EPA ocupa uma posição no Cristo-Rei apontada a Lisboa".
A nós soldados instruendos, sob o comando deste Furriel Miliciano, coube o patrulhamento e vigilância da estrada que ligava  Estremoz - Évora          (o quartel de Estremoz  ainda não aderira ao MFA ).
O nosso conhecimento militar era quase nulo. Sabíamos marchar em ordem unida e  pouco mais, apenas uma e única vez  fizéramos uso de G3 na carreira de tiro durante a recruta.
O medo era visível nos nossos rostos jovens. As equipes, da operação STOP, revezaram-se muito à toa. As nossas atenções concentraram-se mais na rádio: RCP e BBC. Felizmente o golpe foi em Abril mês de Cravos e não houve derramento de sangue. As granadas que usávamos nos treinos de Artilharia da peça 11,4 tinham gravadas a "cruz suástica" eram precisos 4 soldados para a introduzir no tubo antes de fechar a culatra e receber a ordem de : " disparar ".
Para derrubar a ditadura não foi necessário usar a Artilharia e as granadas puderam continuar silenciosas no Paiol.
Eu, no 25 de Abril de 1974 estava na EPA de Vendas Novas "cagado" de medo. E só queria ouvir as notícias das rádios.....e ir para casa.

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