Aquele "sitio" onde socialmente tudo acontecia era o Café.
Leça fervia de movimento nos anos 60/70 .
Junto à Igreja Matriz situava-se, para alguns, o centro com a Junta de Freguesia, correios, bombas de gasolina Shell e Sacor e a paragem términus do autocarro 76 dos STCP com o quisosque onde se registava o totobola e compravam os jornais : Comércio do Porto, 1º Janeiro, JN, A Republica, o Diário Popular, Diário de Lisboa, Norte Desportivo, Bola, Record, revistas e tabaco :
SG,PORTO,RITZ,MONSERRATE,KENTUCKY,PORTUGUÊS SUAVE,AVINTES,PROVISÓRIOS, DEFINITIVOS,ETC...
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As empresas de transporte de passageiros da RESENDE e CASTELO DA MAIA com carreira para norte: Perafita, Lavra, Angeiras,..também tinham aqui a sua paragem, junto à actual praça de Taxis.
A actividade laboral era intensa : Facar(fábrica de tubos metálicos, de servente na Galvanização da 1/2 noite às 06:00 H da manhã,soldador de fita para tubo na máquina R20, turno das 6 às 15 H e 15 às 24 H alternadamente por semana, a despenseiro na Cantina no turno da noite, 15 ás 24 ).
Por essa altura, deu-se início à construção, nos terrenos da "areia de same", da Refinaria da Sacor. Então, por cá, viam-se muitos estrangeiros trabalhadores qualificados das principais empresas que a construiram : Foster Wheeler (USA); Comsip (FR) ; Snamprogetti (IT) . Da participação lusa ( é o nosso destino : sempre tarefeiros dos poderosos da Europa) recordo os subempreiteiros de mão de obra pouco qualificada : a Mecanomar (Leça) e F.Mocho (Matosinhos). Por altura das paragens qualquer um de nós podia arranjar trabalho numa destas empresas. Aos rapazes, enquanto não tivessem a tropa feita era quase impossível uma colocação no mundo do trabalho.
Estaleiros Navais ( Férrinha), Conserveiras (Ramirez, Eifel,..),Fábrica de Cordas do Quintas & Quintas, APDL ( oficinas gerais), Porto de Leixões com cais de carga e descarga com os seus muitos Guindasteiros e estivadores, Madeireiros , Transitários, Pescadores ( arrasto, artesanal, traineira ) , Pilotos de Barra ( que saiam do cais do relógio ) , devido à actividade maritima os tripulantes dos navios mercantes encontravam em Leça o "STELLA MARIS" para alguns
e para outros os bares de alterne: Cubata,Cervejaria Pinto,Cabana,Esporão,onde se podiam relaxar, divertir...e pôr a conversa em dia.
Os mais novos enquanto estudantes frequentavam : as escolas primárias públicas (d'Amorosa, da Praia (duas), do Corpo Santo (só para meninas), e os privados colégios Stº António e externato Avé Maria ; no ensino secundário : Liceu Nacional D.Manuel II ( secção de Matosinhos - ao jardim Basílio Teles ) e Escola Industrial e Comercial de Matosinhos os alunos, quase todos na sua maioria, deslocavam-se para as aulas a pé, atravessando a Ponte Móvel seguindo pela Rua Conde Alto Mearim até às escolas 4 vezes ao dia demorando em cada percurso cerca de 45mn ( horário para almoço 2 horas!).
No Desporto o acontecimento foi o Campeonato do Mundo de Futebol de 1966 assisti ao jogo Portugal 5 - Coreia do Norte 3 num dos poucos cafés com Televisão ( Preto/Negro ) o "Café Leça" propriedade de uma antiga glória do ciclismo o Sr. Agostinho Brás.
Outros cafés : Café Nacala,Conf. Briosa,Café da Ponte, Café Laika,Café Titã, Café Maravista,Marimanda,Café do Florival eram tambem ponto de encontro para se pôr a conversa em dia ou estudar. As horas mais procuradas eram : a) Intervalo para almoço ; b) Tardinha saída de trabalho ; c) Após jantar até 22:30 H.
O cinema começa aparecer, primeiro, com a construção do Salão Paroquial da Igreja de Leça e, mais tarde, com a inauguração do cinema Chaplin junto ao café da Ponte e confeitaria Star, à ponte móvel.
Os mais velhos, já reformados, nas salas de jogos entretinham-se jogando ao Dominó ( ao Belga e Passe ) ou cartas ( sueca, copas e bisca ) e os mais novos ao Bilhar snooker ( por vezes ao "matos" ) e bilhar livre ( ao 31 ) até à hora do jogo do Leça FC ( sempre às 15:00 H de domingo ) . Os cafés enchiam de gente que íam ver os encontros antes e depois do jogo.
Nas noites de sábado os jovens deixavam-se estar no café até mais tarde ( quem pagasse a licença poderia fechar às 2:00 H da madrugada ) e, então, no meu caso no Café Leça, era habitual e sistemático, por volta da 1/2 noite, o pedido : " Quero um Fino, uma Francesinha e um Cimbalino, por favor" ( Menu = 300$00= 1,5€ ).Os empregados na altura eram : O gerente António (Tone das Francesinhas), ao balcão: o João, às mesas ; o Agrelos, o Manel, e o Zé ( irmão do fadista César Morgado) que muito me aturaram e que recordo com a amizade .
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