quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

GERÊS : etapa 3ª - no abismo

Muere lentamente
quien evita una pasión y su remolino de emociones, justamente estas que regresan el brillo a los ojos y restauran los corazones destrozados.
NERUDA, pablo

O Trilho no abismo 
 05Jan2013

16:30 h

 Saídos dos Castelos, escolhida uma rota, tomamos a direção da Vila do Gerês.  
 Surpresa ! 
 Duas colegas, paradas há +/- meia hora, esperavam o grosso do grupo. Porque pararam ? É pá, ali à frente há uma ravina alta, cheia de mato, vegetação, ... aquilo mete medo !









 
   O Mega e o Lino tomam a dianteira e vão averiguar. 
   Vamos no encalço deles. Entramos numa zona de acentuado declive. São 17: 30 h daqui a nada a noite...a escuridão.


    A unidade do grupo é desfeita e a prudência aconselha alguns de nós a não descer a perigosa ravina e procurarem uma alternativa menos perigosa.
    O Lino como um "Bode do Monte" ( nome carinhoso de outros megatrilhos ) evade-se.
    Eu, a Sandra ( mais atleta de BTT) e o Mota ( ágil escuteiro ) seguimos, conforme sugestão do Mega.
    O nosso GPS seria o sentido do correr da água do riacho. Só a água, o facto dela estar ali, nos podia salvar nesta situação confusa.


    O curso do ribeiro que ora se vê, ora descansa em poça, ora se volta a esconder para aparecer mais em baixo, corre por entre muitas, e muitas pedras, estas formam o verdadeiro riacho e constituem um leito em escada cujos degraus são todos desiguais, umas vezes de focinho alto outras baixo, umas vezes patamar largo outras baixo, alargava-se ou estreitava-se e afundava-se entre margens altíssimas e medonhas.
A água ? aparecia e desaparecia, padecia ou corria, a ladear este leito, que também podia ser de cascalho ou areia, misturados com árvores e arbustos ligados por silvas, e mais troncos grossos ou delgados, rijos ou podres, ervas altas, ramos soltos e emaranhados, tanto passávamos por baixo dos troncos caídos, resistentes ou não, descascados, macios e escorregadios, como por cima, com as mãos afastávamos os ramos dos arbustos que procuravam a claridade no meio do leito das pedras, os humanos e natureza irmanados na busca da luz e da água, fontes de vida, na única zona pedonal feita de pedras, escorregadias e viscosas, soltas ou não, era sem dúvida o caminho para a liberdade. Isso mesmo dizia a água que nesse leito corria sempre, para baixo, para o sítio que intuímos ser a saída deste abismo.

    Quase sempre segui na 3ª posição. Por esta ordem : Mota, Sandra e eu .
    A Sandra preocupou-se muito comigo : "Mário venha pela direita"; " quando digo direita, é mesmo direita"; "vire-se de costas, ponha um pé aqui e o outro sobre as minhas mãos ( ela está em baixo de pé com braços estendidos na frente com mãos entrelaçadas) e agarre-se nos meus ombros"; " agora aqui tem que descer de cú, barriga para cima"; "Oh meu Deus, não se mexa, espere, consegue levantar-se sózinho ?"; "magoou-se?"; "pegue a lanterna"; "puta que pariu, molhei-me toda!"; " Ah você ouviu ?, não sabia que estava aí"
" Mota vês o Mega ? "


  J. Magalhães, o " Mega " : era, para mim, o único elemento conhecido do grupo. Conheci-o em Léon, no meu Caminho Francês de Santiago de 2012, rapaz simpático, alegre, de boas e altas risadas, fala rápido e conciso, prático, amante do andar depressa por montes, vales e outras pradarias, respeitador e sempre com uma palavra amiga, espera pelos que se atrasam e tem sempre uma palavra de conforto. Nestas andanças alimenta-se de papas, barras energéticas e chocolate preto pantagruel, (usado em geral para culinária ?), que reparte com os outros. Usa na indumentária suspensórios:

"Você não precisa de exagerar nas cores e nem fazer combinações estranhas, mas porque não usar uns suspensórios vermelhos com o seu terno azul? Fica super fashion e vai dar a seu visual, aquele estilo preppy que está procurando. E dá também para usá-los de forma cruzada ou de forma normal. Com o terno, não é aconselhável deixar seus suspensórios soltos, sobre as calças."


Sem comentários: