quinta-feira, 26 de julho de 2012

A vida de alterne na Roberto Ivens : Capas de Livros da vida

Roberto Ivens
Anos 60/70, Rua Roberto Ivens (Matosinhos), mais conhecida pela Rua do Porta Sim - Porta Sim, e onde se concentravam a maioria dos estabelecimentos nocturnos de diversão. Era a Meca do Amor !
Rex ; Night and Day ; Ritz ; Casanova ; Europa ; Holanda ; Gaúcha ;...

Rua Brito Capelo : Cactus, Macau
Zona do Mercado : Escandinávia, Texas, Dourada, Chaimite e Marverde...

Leça : Rubi, Cabana, América, Pinto, Bonanza, Nova Cervejaria, Cubata....


Os marinheiros, os "embarcadiços", buscavam aqui a música, a bebida e a mulher.  Era bom ter uma em cada porto.

As caça niqueis marcavam presença. A máquina de discos, jukeboxe, tipo americana, e a máquina de flippers, com o seu tlim-tlim não paravam.

A luz era escura com algum vermelho à mistura. A pinha no tecto girava e produzia os seus efeitos psicadélicos muito envergonhadamente.

Nalguns bares, "dancings", ensaiavam-se os primeiros strips. Sofás de dois lugares, aos pares, com uma mesa baixinha a separá-los. Ver as primeiras mini saias e decotes pagava-se caro. A alternadeira, a troco de duas danças de slow, sugeria um cocktail ou uma garrafa de champanhe. O fumo de cigarro enevoava todo o ar.

Reservado a Clientes.Proibida a Entrada a menores de 21 anos. Consumo Obrigatório em vários $$$. Lia-se nas portas de entrada.

Quando o porteiro abria a porta para deixar entrar um cliente, normalmente estrangeiro, via-se o escuro e escutava-se a música que saía da "Jukebox", sempre do tipo romântico. Ao balcão havia sempre bancos altos, individuais, fixos ou giratórios.

À noite o néon indicava o Bar "Dancing", à distancia. Eram muitos. Os clientes na sua maioria eram marinheiros estrangeiros. Quando acostavam navios de guerra estrangeiros (os franceses traziam uma bolinha vermelha no cimo do chapéu) e sobretudo americanos o movimento era tal, que se fosse hoje, dir-se-ía que saíu o Euromilhões nos bares Matosinhos/Leça. Os táxis, pintados a verde/preto, das praças do mercado de Matosinhos e estação de passageiros em Leça, andavam numa roda viva. O Stella-Maris sempre com marinheiros.

Os jovens e menos jovens tinham muita dificuldade ou quase impossibilidade de se deslocarem ao estrangeiro. Era o tempo da Ditadura. Aproveitavam o contacto com estes estrangeiros para exercitar o conhecimento do francês e do inglês aprendidos na escola. A novidade, a curiosidade pelo que se passava "lá fora" espreitava-se e lia-se nestes bares e "dancings" de Matosinhos-Leça livros vivos de muitas línguas e lugares. Era uma escola da vida.

 Lugar de encontro de : homens novos e velhos, cantores, artistas, marinheiros, proxenetas, prostitutas, homossexuais,travestis, lésbicas, policias, ladrões, militares, gente séria e menos séria, ricos e pobres, de todas as raças e todas as línguas.

Nesta babilónia cabiam todos. Cegos, surdos e mudos. Todos se entendiam, raramente havia distúrbios, visíveis ou assinaláveis. Era seguro pela noite e madrugada. As borracheiras eram toleradas porque a sede trazida de meses no mar e na terra, a longa abstinência e a beleza das mulheres assim pediam.

















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