As noites eram frequentemente interrompidas por estes altifalantes. O Tenente Andrade e Silva, madeirense, com o seu célebre bandolim era o terror dos soldados instruendos de artilharia de campanha. As praxes eram de alguma violência e nós não nos considerávamos "os comandos do sul" porque não éramos infantes mas sim tropa de retaguarda. Simplesmente Artilheiros.
Foram estas colunas de som nas camaratas que nos anunciaram o 25 de Abril de 1974 e serviram para emitir os diversos comunicados do Movimento das Forças Armadas (MFA).
A informação ao vivo no local foi-nos transmitida pelo Furriel Rachão ( ex-jogador de futebol e treinador):
- " Uma Bateria da EPA ocupa uma posição no Cristo-Rei apontada a Lisboa".
A nós soldados instruendos, sob o comando deste Furriel Miliciano, coube o patrulhamento e vigilância da estrada que ligava Estremoz - Évora (o quartel de Estremoz ainda não aderira ao MFA ).
O nosso conhecimento militar era quase nulo. Sabíamos marchar em ordem unida e pouco mais, apenas uma e única vez fizéramos uso de G3 na carreira de tiro durante a recruta.
O medo era visível nos nossos rostos jovens. As equipes, da operação STOP, revezaram-se muito à toa. As nossas atenções concentraram-se mais na rádio: RCP e BBC. Felizmente o golpe foi em Abril mês de Cravos e não houve derramento de sangue. As granadas que usávamos nos treinos de Artilharia da peça 11,4 tinham gravadas a "cruz suástica" eram precisos 4 soldados para a introduzir no tubo antes de fechar a culatra e receber a ordem de : " disparar ".
Para derrubar a ditadura não foi necessário usar a Artilharia e as granadas puderam continuar silenciosas no Paiol.
Eu, no 25 de Abril de 1974 estava na EPA de Vendas Novas "cagado" de medo. E só queria ouvir as notícias das rádios.....e ir para casa.
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