Deus concedeu-me a graça de ter vivido no Gabú no ano de 1990 entre Maio e Agosto.
Na picada por entre saltos nas árvores os macacos castanhos (os chamados "tugas") acompanhavam o meu vasculhar dos sitios, eram os guardiães da floresta. Na estrada rural vagueei até Pitche, Canquelifa, Burunduma, Pirada ou para o outro lado Sonaco,
Contubuel. Apreciei o comércio local com os xilas (barretes vermelhos) a vender arroz, cobertores e sabão. As Mitshubi Canter carregadas de mercadoria. As pessoas simpáticas nas tabancas acenavam à minha passagem. Outras vezes as mulheres com carregos : à cabeça lenha e às costas filhos, pelas beiras da estrada acenavam com o braço e mão estendida para baixo e para cima, sinal de pedido de boleia. A terra vermelha, côr de sangue, da estrada, artérias daquele corpo verde da floresta serrada, capim alto e bissilões, sempre com gente. Fui até Pirada, apontaram-me locais estratégicos das emboscadas feitas às tropas coloniais, vi pichagens tipo " os pirónamos de leste" , " Braga" "F.C.Porto", "Sporting" e "Benfica" e assim ensinámos a que amassem os clubes do "Puto". Esse futebol que com os meus amigos de "lá" vi pela Televisão no café das "Piscinas" ( na altura desactivadas e sem água ) de Bafatá.
Era a Copa do Mundo 1990 da FIFA, éramos todos pelos Camarões com o fantástico MILLA foi o acordar do futebel africano.
Os meus amigos de lá rejubilavam, riam e cantavam, falavam-me do Eusébio e da nossa história, das suas ambições futuras mas sobretudo daquele presente incerto. "Badjuda Ka tem" porque ter namorada faz gastar dinheiro e havia que poupar para fazer uma caixa com os outros irmãos para que o mais velho deles pudesse estudar ou ir no Portugal. Não bebiam alcool ou sequer fumavam havia que poupar ou porque nem sequer conheciam a côr do dinheiro. O tempo livre dos jovens era gasto passeando para cima e para baixo aos pares de mão dada. Uma delas foi-me dada era grande macia, seca e firme. Quis recusar mas um aperto e um sorriso fez-me desistir. A minha mão suada não se habituara à humidade local. Cinco pares de mãos dadas mantiveram-se ligadas até ao Bar da Maria Mariame, no Gabú, as cervejas Sagres, que só ela tinha, frescas foram sorvidas em largos tragos. O que ali se passou foi lindo de viver, sentados em bancos corridos, ao ar livre , casas pequenas chapeadas e muita gente e muita côr. Aí aprendi do Acqua, rapaz de Casamança, que falava françês, me ensinou o significado das mãos dadas : SINAL DE AMIZADE. Sim fiquei a gostar dos fulas (com os seus riscos, cicatrizes, nas faces, dos balantas, de todos , daquela gente e daquela terra que tão bem me acolheu, não ligando à minha côr de pele, parecia até que fora sempre de "lá". Neste momento que atravessa maus momentos espero que as pessoas não sofram , tenham direito à liberdade, ao pão e à democracia plena. Espero que todos os Guineense dêm as mãos porque as minhas já as têm!
"Nô Cumpto Guiné" - VAMOS EM FRENTE
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