sábado, 24 de março de 2012

A Obra (II) : A PISTA RURAL GABÚ - SONACO


"As vezes quando o sol nas matas virgens
A fogueira das tardes accendia.. ."
(Castro Alves)


Ano : 1990
Período : Maio a Agosto
Local : Gabú

    1.   A EXECUÇÃO DO PROJECTO  :  "MELHORAMENTO DAS PISTAS RURAIS GABÚ-SONACO-PIRADA"


As dificuldades da execução de uma obra em África são bem conhecidas e aqui lembro algumas :

  •   Indefinição do projecto definitivo de execução de obra    
  •   Fonte de financiamento e pagamentos
  •  Dificuldades tradicionais :
a) Inexistência de um Quadro de Pessoal competente e duradoiro, por diversas  razões, há sempre grande mobilidade dos principais quadros de chefia de obra.

b) Logistica, há sempre falta de alguma coisa : licenças, máquinas, peças de máquinas , gasóleo, óleo, água, cimento, brita, areia, madeira, pregos, etc.


Há sempre na boca de alguém, que sofre com o calor, a humidade, a má alimentação, o desabafo : " isto é muito complicado ". A pressa apressa os Europeus e desespera-os. Aos africanos, pelo contrário, sobra-lhes o tempo. Há muito que esperam por estas obras e mais mês menos mês, ou mais ano menos ano dá igual... Para eles o que importa é que esta Obra fique bem feita, i.é., bem executada e com o menor dano ambiental possível.


Se durante a execução da obra melhorarem o seu rendimento disponível tanto melhor. Para alguns ou quase todos seria bom que a obra durasse, durasse...era sinal de haver trabalho,pão para eles e respectivas familias.




     Por vezes, a densidade de árvores obriga a um desvio do percurso da pista rural existente para evitar os danos ambientais e até de certo modo economizar  meios e tempo. Então procura-se o entendimento com as autoridades financiadoras e financiadas. E a nova estrada vai ser construída :



- Procede-se ao levantamento do terreno, implantação, piquetagem, corte de raízes e executa-se em latrite ( a terra vermelha de áfrica, saibro que bem aperta e até o coração ) a sub-base e base e "couche de roulement" ou faixa de rodagem, box cuvers e valetas longitudinais e transversais.



É um trabalho árduo e rigoroso. A latrite vem das pedreiras a alguns héctometros de distancia, a Komatsu faz o desbaste, remove e escava. As pás carregadoras colocam a latrite em cima dos camiões, estes colocam-na na estrada, as máquinas espalham, os cilindros compactam, o camião de rega humidifica, os protores são levados para o laboratório.


A motoniveladora espalha, acerta o relevé e desenha as valetas. A latrite bem compactada vai permitir, antes da rega e do alcatrão, velocidades de 120 Km/h, as pessoas ganharão tempo e agora muitas vidas serão salvas . As  deslocações aos hospitais serão agora mais rápidas.



Na época das chuvas, em certos lugares da pista, aparecem uns riachos de forte caudal. A população local mais velha informa e pede para que nesse ponto se construa uma espécie de pontão. Por norma , esse pedido é atendido e o Box Cuver é construído tendo em atenção o seu montante e juzante de acordo com a informação oral recolhida.





Á esquerda terra escavada para a  implantação de mais um pontão.

À direita box cuver antigo existente na velha pista rural
   


Dano ambiental
:
as pistas rurais coloniais com +/- 3 m.l. largura eram ladeadas por árvores. No novo projecto passariam a 5 m.l. de faixa de rodagem mais valetas pelo que seria necessário, em alguns troços, proceder ao abate de árvores.
Na foto, no chão Bisselon abatido.Árvore com propriedades terapêuticas tradicionais ( antipirético, emético, genito-uro-nefropatias,malária).









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